O valor de uma memória



Raquel Ferreira de Rezende
Médica
Até parece que as rosas foram deixadas para trás
Mas ainda vejo os contornos
O traçado e as cores.
Talvez até eu volte
Ainda à elegância que sobressai, e mais ainda,
À fragrância.
Ainda que seja eu o vento
Ainda que seja eu o solo
E ainda assim, o valor de uma memória
Que rouba olfatos
Que disseca narinas
Que atropela o presente
E ainda assim, revive o passado
Um sopro e um suspiro.
De reminiscências a fósseis
De mesóclises a sumários
Plenos de si
Envoltos de nada
Nada vai restar além das rosas
Que não foram ou serão
Pois intocavelmente eternas
Encostam nas estrelas que nunca caem do céu
O céu de Galileu
Ou de Iracema.
Porque uma pipeta não transfere
Ainda que uma memória volátil
Mas está para a morte
Assim como a cruz para os cristãos.
Onde se pisa esperança
Cultivam-se rosas.
Onde se respiram átomos
Colhem-se moléculas
Desabrochadas de nós.
- Querida memória, lembre-se de mim.